Você abre a porta para a senhora, segura por tempo suficiente para que ela entre (lentamente) e, à sua passagem, tudo que se ouve é o silêncio. Cri cri cri. Pessoas mais e mais ensimesmadas, famílias que nutrem como valor fundamental o distanciamento calculado, a ética do meu pirão primeiro. A música repetia, já se vão mais de 15 anos, que Brasília é uma ilha, mas a ilha mesmo é o indivíduo. Depender pouco – ou nada – dos outros. Cuidar de si e de mais ninguém. A convivência como mal necessário a ser controlado. A solidariedade como exercício de fim de semana. O altruísmo como inclinação inescrutável. A fé. Virtude de quem não diz bom dia. Um leão em esconderijos.
Archive for fevereiro, 2012
Relâmpagos
Crise econômica internacional? Sucessão americana? Reflexos da primavera árabe? Pinheirinho? Copa do Mundo? Carnaval? Nada disso. O que aflige o brasiliense de verdade neste início de ano são os seqüestros-relâmpago. Na terça-feira, segundo a imprensa local, até um policial militar foi vítima do crime – e em pleno Setor Comercial Sul! Ninguém sabe mais o que fazer. Dar novo aumento às polícias mais bem pagas do Brasil? Pedir mais recursos ao governo federal? Fechar as fronteiras com o Entorno? Não importa, desde que seja uma solução simples, que não exija envolvimento excessivo em questões sociais e políticas. Porque, convenhamos, se o preço for esse, é melhor até ser seqüestrado, hein.