Archive for maio, 2009

CCBB no SCES

BrizolãoNão é exatamente um oásis num deserto, mas pode ser um centro cultural num setor de clubes esportivos. O CCBB de Brasília reúne atrações para todos os gostos e, surpreendentemente, não fica a dever aos seus co-irmãos do Rio e São Paulo. A exposição Virada Russa, por exemplo, com obras de Chagall, Goncharova, Kandinsky, Maliévitch, Rodchenko e Tátlin, começou o circuito nacional por aqui (segue até dia 7). Aberto em 2000, com uma arquitetura levemente evocativa dos CIEPs, o CCBB também oferece programação de cinema, vídeo, música, debates, além de livraria, café, transporte gratuito e, até o início de 2010, a possibilidade de um esbarrão no presidente Lula, enquanto o pessoal dá uma guaribada no Palácio do Planalto.

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Passeata de incompetência

Onde estarão os carros do BPTran e do Detran?Devo ser uma das poucas pessoas por aqui que não odeiam as manifestações na Esplanada. Pelo contrário, numa capital tão distante – em mais de um sentido – da realidade do país, passei a achar que marchas e reuniões em praça pública são a única maneira de interferir no alheamento que impera no coração do Brasil.

Exageros poéticos à parte, o fato é que uma manifestação de agricultores parou as vias centrais de Brasília na manhã da quarta-feira (27), fazendo os motoristas arrancarem os cabelos – cada um, naturalmente, em seu próprio carro. A quinta-feira amanheceu com a indignação costumeira nos jornais. “Foi preciso muita paciência”, choveu no molhado o Jornal de Brasília. “Em 6 anos, trânsito será igual ao de SP”, agourou o Correio Braziliense.

As autoridades explicaram, como de hábito, que há carros demais, que os manifestantes não cooperam (!), que o sistema viário está estrangulado. O Batalhão de Trânsito (BPTran), da Polícia Militar, garantiu até que tem esquema especial para eventualidades como aquela.

O que ninguém – nem os jornais, nem as autoridades – contou é que, entra passeata, sai passeata, não se vê uma intervenção concreta para reduzir os efeitos negativos no trânsito. Desvios, fechamentos de acessos, inversões de faixas, desligamento de semáforos e guardas na orientação ao motorista são medidas que, aparentemente, nunca passaram pelas cabeças pensantes do BPTran e do Detran.

O “esquema especial” da PM resume-se a fechar três faixas aos veículos para que ninguém seja atropelado. É um bom início. A vida, afinal, deve vir em primeiro lugar. Pena que a iniciativa venha sempre em último.

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Deu zebra (II)

STCEVMea culpa, mea maxima culpa. Parado diante do Brasília Shopping, tentando ir para o trabalho, eu poderia ter pegado um táxi, caminhado, pulado na garupa de uma bicicleta ou até pedido carona a um dos carroceiros que circulam pela cidade. Em vez disso, cedi à tentação de confirmar a sabedoria popular e subi na zebrinha linha 22, diligente cumpridora do itinerário simplificado “SQS 216-416/W3 Sul-L2 Norte (SDN)/W3 Norte-L2 Sul (SDN)”.

Uma reta imaginária entre meu ponto de partida e meu destino desejado teria aproximadamente 1.800 metros. A velocidades médias de 5 km/h e 20 km/h, percorrer o trajeto consumiria 21,6 minutos a pé ou 5,4 minutos de bicicleta. De ônibus, seguindo pelas vias de circulação, parando em sinais e faixas, cruzando o Eixo Monumental três vezes (!) e descendo bem longe da meta, gastei mais de 30 minutos.

Anote aí: às vezes, para pegar uma zebrinha, só sendo um autêntico jumento.

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Andança

Vim, tanta areia andeiAntes o problema de Brasília fosse apenas não ter calçada. A verdade é que o heróico pedestre precisa vencer muito mais que a falta de meio-fio para chegar a algum lugar. Tome-se como exemplo a caminhada da quadra 1 à 5 do Setor de Autarquias Sul. Para cumprir a missão, é impossível percorrer qualquer trajeto que se assemelhe, mesmo que vagamente, a uma linha reta. São “estacionamentos” de terra, passagens sem saída, depressões súbitas, áreas interditadas: tudo a conspirar contra o andarilho. No fim, 500 metros podem se transformar, num piscar de olhos, em 700, 800… E, se bobear, o sujeito ainda acaba no prédio errado.

***

Outra prova interessante da olimpíada do pedestre é atravessar o Eixo Monumental. Em vários trechos, essa via desimportante, que não faz mais que definir o Plano Piloto, não tem sinal, farol, semáforo ou sinaleiro. Ao descer num ponto mal localizado, o caminhante que deseja ir do norte ao sul ou do sul ao norte vira um arremedo de Eddie Murphy no filme Os picaretas. Acredite: na telona, é engraçado.

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Bolha de sabão

Pletora de alegriaNão consigo esconder um prazer meio sádico diante de anúncios do tipo “vendo apartamento urgente”. Quando o aviso se une a rumores de estagnação no mercado imobiliário, então, a satisfação é redobrada. Não, não é nada pessoal. Mas há alguma coisa fora da ordem, fora da nova ordem mundial, num mercado como o brasiliense, que negocia um apartamento (de 60 metros quadrados) a R$ 275 mil para venda e a R$ 1,2 mil para aluguel.

Os valores “corretos” do nada hipotético imóvel acima, a se respeitar a proporção lugar-comum de 1% entre preço e aluguel, deviam ser de R$ 120 mil do lado de lá ou de R$ 2.750 do lado de cá. (Se você não entendeu a conta, aceite o conselho, não compre ou alugue um imóvel sozinho.) Pequenas distorções, para mais ou para menos, são normais, em função tanto do mercado local como da economia em geral. Distorções em níveis brasilienses, por outro lado, só se explicam à base de forças ocultas, populares desde a época da vassourinha.

Curiosamente, um assunto tão interessante, que afeta tanta gente, não encontra muita repercussão na imprensa local. Talvez seja delicado demais, complexo demais ou simplesmente chato demais. De toda sorte, há um pobre coitado por aí, vendendo seu apartamento com urgência, a preço provavelmente “abaixo do mercado”.

Pode ser um sinal. Ou pode ser apenas uma bolhinha de sabão. Sopremos juntos.

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Teresa, Paulinho, Maria Joana

A volta do sambaNão pode estar muito certo ouvir um samba, um samba de verdade, num dos hotéis mais requintados de Brasília, em confortáveis cadeiras numeradas. Falta alguma coisa, talvez não a moda da Lapa, talvez não a descontração estereotipada do Rio, mas falta alguma coisa que nem uma tirada maliciosa provê. E tirada maliciosa não falta, não quando a estrela do espetáculo arremata Pecado capital com a provocação de sempre, aquela história de que Brasília é o lugar perfeito para a música. E é mesmo. Dinheiro na mão é vendaval. Dinheiro na mão é solução. E solidão. A conversa é boa, a levada é boa, Teresa Cristina é boa. Não, não pode estar muito certo ouvir um samba, um samba de verdade, por aqui. Mas é preciso viver. E viver não é brincadeira não.

Maria Joana
(Sidney Miller)

Não faz feitiço quem não tem um terreiro
Nem batucada quem não tem um pandeiro
Não vive bem quem nunca teve dinheiro
Nem tem casa pra morar
Não cai na roda quem tem perna bamba
Não é de nada quem não é de samba
Não tem valor quem vive de muamba
Pra não ter que trabalhar
Eu vou procurar um jeito de não padecer
Porque eu não vou deixar a vida sem viver

Mas acontece que a Maria Joana
Acha que é pobre, mas nasceu pra bacana
Mora comigo, mesmo assim não me engana
Ela pensa em me deixar
Já decidiu que vai vencer na vida
Saiu de casa toda colorida
Levou dinheiro pra comprar comida
Mas não sei se vai voltar
Eu vou perguntar
Joana, o que aconteceu?
Dinheiro não faz você mais rica do que eu

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Fora dos eixos

Encontre a DF-002O primeiro passo para entender a disposição de Brasília é visualizar o Eixo Monumental e o Eixão. Etc. etc. etc. Na cidade em que tudo parece fácil, o que me soou difícil, hoje, foi a dúvida de um amigo: como se chama o Eixão? Sim, é meio como perguntar “qual é o nome do João?”, mas eu entendi. E, com a ajuda dos universitários, descobri que o Eixão se chama Eixo Rodoviário (de Brasília). Mais: também atende por DF-002 e é escoltado de um lado pelo Eixinho L e do outro pelo Eixinho W. Compreendeu?

Ah, o Eixão, obviamente, atravessa o Eixo Monumental. Pelo Buraco do Tatu.

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Piada de salão (II)

Marcha, soldado, cabeça de papelNão resta muito a fazer diante de uma piada pronta. Assim, saboreiem o episódio, na versão do Jornal de Brasília:

A ousadia de dois assaltantes impressionou a polícia na tarde de ontem. Mesmo armados, eles conseguiram burlar o forte esquema de segurança do Quartel General do Exército, localizado no Setor Militar Urbano. De terno e gravata, a dupla passou pela portaria sem levantar suspeitas. Seguiu rumo ao subsolo do bloco H, na Ala Sul, onde rendeu o gerente de uma agência do banco Bradesco e um general. Depois de amarrá-los com fita isolante, eles, tranquilamente, abriram o cofre e levaram R$ 8 mil. Fizeram tudo isso em menos de 15 minutos e fugiram com um sorriso no rosto, comemorando o roubo bem-sucedido.

A Delegacia de Repressão a Roubos (DRR) investiga a ação dos criminosos. A desconfiança é que a dupla tenha falsificado um crachá de livre acesso. Com isso, eles teriam entrado sem precisar passar pelo processo de triagem, feito na portaria do quartel. Segundo depoimento de testemunhas, os homens entraram na agência bancária sem apontar arma. Apenas abriram o paletó e mostraram o revólver, provavelmente calibre 38, escondido na cintura.

(…)

No QG do Exército existe um verdadeiro arsenal de armas de infantaria e artilharia. Cinco mil militares armados com fuzis e metralhadoras estão espalhados na área externa e interna dos dez prédios existentes no setor. Nem mesmo esse forte sistema de segurança foi suficiente para intimidar a ação dos criminosos.

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O samba abunda

Gaúcha Estado Maior da Restinga, Carnaval 2009Se o Carnaval não vai a Brasília, Brasília vai ao Carnaval. E vai, segundo rumores, de Beija-Flor, campeã de cinco dos últimos sete desfiles do Grupo Especial do Rio. A escola de Nilópolis disputava a honra de homenagear os 50 anos de Brasília – e uma mixaria de R$ 7 milhões como incentivo – com Mocidade e Portela, entre outras menos cotadas, mas sempre foi a favorita. O empenho em fazer um grande desfile em 2010, ano que passa a reunir Carnaval, cinqüentenário e, opa!, eleições, é tamanho que já atraiu o debilitado Joãosinho Trinta e o próprio Oscar Niemeyer, carnavalesco da capital (em parceria com Lucio Costa) e do Sambódromo carioca. A comissão de carnaval da Beija-Flor promete destacar na avenida, em delicados tons poéticos, os valores mais prezados pelo centenário arquiteto.

“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.”
Oscar Niemeyer

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Sem título

NadaQuando cheguei a Brasília, um dos primeiros “boatos” que ouvi dizia respeito a uma sinistra tradição do Pátio Brasil, shopping localizado na área central da cidade. O lugar, segundo as histórias, seria um point dos suicídios. Como os jornais não costumam divulgar esse tipo de assunto e o shopping, evidentemente, nunca assumiria a duvidosa honraria, a veracidade do fato ficava no ar, a despeito dos numerosos relatos na internet e em rodinhas de conversa.

Uma carta à direção do Pátio Brasil, divulgada em abril pelo pai de um jovem morto no local um mês antes, e sua subseqüente repercussão, até na imprensa, acabaram de vez com o mistério. Em 9 de março, Pedro Lucas, de 21 anos, subira ao quarto e último andar do shopping, encaminhara-se ao vão central, vencera uma proteção de 1,20 m e se jogara.

***

Tirei a tarde de sábado para assistir a Gran Torino no Embracine do CasaPark. A discussão central do filme, entre o turrão veterano de guerra Walt Kowalski e o jovem padre Janovich, é sobre quanto cada um sabe a respeito da vida e da morte. Kowalski, recém-viúvo e marcado pelo passado na Coréia, parece levar larga vantagem.

Não surpreende, portanto, que, depois de se aproximar de uma família de imigrantes e de vê-la ameaçada por uma gangue, Kowalski saiba exatamente o que fazer.

***

“Por fim, gostaria de colocar que o shopping deve ser um lugar alegre, que cultive a vida, e não a morte”, conclui o pai, na carta.

Espero, sinceramente, que o Pátio Brasil atenda seu pedido de instalação de uma proteção mais alta no vão central, mas peço licença para, com o devido respeito, discordar da afirmação.

O shopping deve ser apenas o shopping, tanto quanto a vida deve ser apenas a vida e a morte deve ser apenas a morte. Para nós, que continuamos por aqui, basta que cultivemos a humanidade.

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Natureba (II)

Mais verde na mesaPara completar o informal guia de restaurantes naturais de Brasília, seguem comentários sobre outros dois legítimos naturebas, o Rei do Glúten e o Girassol.

O Rei do Glúten (411 Sul), oficialmente Sabor Natural, faz jus ao nome. Além de legumes e verduras, o comilão pode degustar uma variedade de pratos à base de glúten, incluindo uma feijoada completa. Ou quase. A casa só podia dar uma maneirada no preço (R$ 27,90, o quilo), já que carne, sob qualquer forma, é item proibido no bufê. Atenção: contém glúten.

O Girassol (na movimentada 409 Sul), por sua vez, é um exemplo de cozinha minimalista: o freguês começa a se servir e, quando se dá conta, os pratos já acabaram. O bufê diminuto (R$ 28,70, o quilo) tem muitos molhos e até radicchio entre as verduras, mas o resto se resume a arroz, feijão e dois (ou três) pratos quentes. Registre-se que, se um deles for a torta de ricota com shitake, vale a pena.

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