Como se sabe, Brasília é a terra das oportunidades, um lugar regido exclusivamente pelas regras de mercado e onde qualquer pessoa com disposição para trabalhar prospera. Em resumo, um retrato do Brasil que pode dar certo, um Brasil do livre empreendedorismo e da meritocracia. A introdução é necessária para se entender um dos comentários de Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal desde o início do ano, em recente entrevista ao Correio Braziliense :
A própria revisão dos contratos e a suspensão do Pró-DF [Programa de Promoção do Desenvolvimento Econômico Integrado e Sustentável] mostram nossa intenção. Estamos enfrentando esse problema em todas as áreas. Estamos recuperando a credibilidade do setor produtivo. A retomada das relações republicanas no governo está aumentando a confiança e a credibilidade e atraindo os empresários. Recentemente, me reuni com um grupo grande de hotelaria, que sempre quis se instalar aqui, mas afirmou que agora é possível. Antes, havia uma espécie de reserva de mercado, ou seja, para entrar no DF era preciso pagar ou se associar a empresários daqui. Empresas de fora tinham grande dificuldade de se instalar aqui e isso atrasou o nosso desenvolvimento.
Em sua polidez, o governador descreve a situação como “reserva de mercado”, expressão que deve ter a mesma origem etimológica do “paralelismo natural” usado pelos donos de postos para descrever a curiosa coincidência dos preços dos combustíveis na capital.
Ao longo dos anos, criticar a “reserva de mercado”, o “paralelismo natural” e outros eufemismos típicos tem sido visto ou como deplorável ato de lesa-paraíso ou como exemplo da inveja que sói brotar nos forasteiros diante da prosperidade pujante da capital. Que o próprio governador reconheça que a história não é bem assim pode ser um primeiro passo. Ou apenas uma resposta perdida no meio de uma entrevista.