Archive for setembro, 2009

Vendendo o sol

Os vários sentidos de calorFalta um senso mais apurado de marketing a Brasília. Um belo exemplo é a grande manchete desta terça na capital: “Brasília registra dia mais quente do ano”. Embora verídica, a afirmação é praticamente um apelo ao desdém dos moradores de outras cidades; enquanto os candangos espantam-se com os meros 31,8 graus de hoje, os cariocas já curtiram 39,3, em março, e os cuiabanos deliciaram-se com 40,1, duas semanas atrás.

O sujeito de Palmas, cozido pelos dois dias de 39 graus só neste mês, lê a novidade bombástica de Brasília e reage, não sem razão, com absoluto desprezo. Trintaeumvírgulaoito? Frio polar.

Não seria o caso de pôr a numeralha de lado e destacar o que a cidade possui de realmente único? Título: “Brasília terá mais cinco dias de índice UV extremo”. Subtítulo: “Exposição à radiação pode provocar queimaduras, pintas, câncer de pele e lesões nos olhos”.

Todo lugar tem suas peculiaridades. O segredo é saber vendê-las.

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Hora de Brasília

Em Brasília, sete horas e vinte minutos. A padaria está fechada. A banca de jornal também.

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O importante

Altius, citius e secus pra carambaEnquanto Rio de Janeiro, Chicago, Madri e Tóquio roem as unhas, à espera do anúncio, em 2 de outubro, da sede das Olimpíadas de 2016, Brasília já curte nada menos que sua 3ª edição do evento. Desde o último dia 12, representantes de 30 paísesregiões administrativas, entre as quais a caçula Vicente Pires (criada em maio deste ano), disputam medalhas nas seis modalidades das Olimpíadas da Cidade.

A versão candanga dos Jogos Olímpicos tem como objetivos incentivar a prática esportiva, identificar talentos locais e promover a integração entre as regiões administrativas.

Outra missão, não-declarada, é descobrir a que cidade se refere o nome da competição.

Detalhes à parte, Brasília (2007) e Taguatinga (2008) buscam, até o dia 27, o bicampeonato, enquanto as outras RAs tentam o primeiro título olímpico. Que vença a melhor!

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Ciclo da vida

Para voltar, dê a voltaPara o brasiliense, ainda na pré-adolescência, revelam-se limpidamente as etapas fundamentais do ciclo da vida: nascer, crescer, passar num concurso público, financiar um apartamento no Plano, comprar um Tucson e se aposentar. Reproduzir é uma possibilidade; morrer, uma contingência. Perdido no ponto médio, devoto do aluguel e fidelíssimo a um destemido Palio 2006, nunca vi com tanta simpatia a idéia de aumentar a família…

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Pedala, candango!

Desce redondoA aparição do cidadão de bicicleta no trabalho ou na faculdade suscita, vez por outra, a conversa mole: “Eu (ou você) também podia vir de bicicleta, hein!” O problema é que, invariavelmente, podia, mas não podeu. Escassez de ciclovias, trânsito intenso, suor, risco de furto, bico-de-papagaio, conjunção astral, esgotamento do modelo neoliberal: desculpas para a inércia não faltam. Nem desculpas, nem veículos automotores, que, até julho, somavam um milhão, cento e três mil, quinhentos e quinze registros no Distrito Federal. As bicicletas, por outro lado, contam-se nos dedos, às vezes de uma mão – com cacófato e tudo.

E, mesmo assim, outro dia, pedalando rumo à UnB, fui surpreendido pelo motorista de um ônibus, que, ao me ver numa agulha, parou no meio da via e piscou o farol para que eu atravessasse em segurança. Fiquei tão animado, tão esperançoso e tão otimista, que achei que, logo em seguida, seria colhido por um carro em alta velocidade, na contramão, pilotado por um bêbado atrasado para uma urgente compra na padaria da esquina de casa.

Ter chegado incólume à aula não deixa de ser um alento.

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Novos temas

RótuloUma cidade que tem uma lista (extra)oficial de temas para discussão entre parentes, amigos, colegas de trabalho e desconhecidos em geral não pode negar sua natureza provinciana. Em Brasília, conversa de bar, de elevador, de esquinabanca de jornal, naturalmente quando se conversa, é sobre seca (e chuva), preço de imóvel, concurso público ou trânsito. Aqui mesmo, estes são assuntos recorrentes, o que me causa certa preocupação. Por isso, inicio agora uma tentativa de alteração de rumo, com novos e emocionantes temas a serem maltratados.

Para começar, proponho um debate sobre o ceticismo epistemológico, que nega a capacidade do espiríto humano de penetrar as aparências para alcançar a realidade (ordenada) e descobrir a verdade.

E, então, estaríamos condenados à insuportável aceitação de que vivemos num mundo caótico?

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Cataclismo

Falta poucoViajei há cerca de dez dias no meio de um inesperado período de chuva e ao voltar, hoje, fui recebido por um dia inteiro de aguaceiros intermitentes. Considerando-se que o último borrisco, antes disso, ocorreu em 31 de maio, conclui-se que a seca deste ano durou menos de três meses. Ou simplesmente que, se o fim do mundo ainda não chegou, deve estar bem próximo.

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