Tempos tenebrosos

Previsão de tempo ruimVocê abre a porta para a senhora, segura por tempo suficiente para que ela entre (lentamente) e, à sua passagem, tudo que se ouve é o silêncio. Cri cri cri. Pessoas mais e mais ensimesmadas, famílias que nutrem como valor fundamental o distanciamento calculado, a ética do meu pirão primeiro. A música repetia, já se vão mais de 15 anos, que Brasília é uma ilha, mas a ilha mesmo é o indivíduo. Depender pouco – ou nada – dos outros. Cuidar de si e de mais ninguém. A convivência como mal necessário a ser controlado. A solidariedade como exercício de fim de semana. O altruísmo como inclinação inescrutável. A fé. Virtude de quem não diz bom dia. Um leão em esconderijos.

3 Respostas so far »

  1. 1

    Valter said,

    É difícil entender esse silêncio deseducado que se percebe em Brasília… Seria um misto daquele silêncio da cultura sertaneja, do Goiás profundo, do cumprimento tácito, de olhares sérios, de rostos duros, dos “homens fortes”, com o silêncio de uma sociedade mecanizada pelo sistema hierárquico, no qual todos sabem seus lugares e as autoridades nem precisam falar e são “ouvidas” pelos que as servem? Afinal, cada um tem o seu “setor”… Então “bom dia”, “boa tarde” e “obrigado” por vezes precisam ser arrancados a força. A diferença com o que se vê e se escuta no Rio chega a ser gritante.

  2. 2

    […] Faz cinco anos comecei a descrever aqui minhas impressões da vida em Brasília. Atraí, com um ou outro elogio e incontáveis reclamações, a simpatia de uns poucos, o ódio de meia dúzia e o desinteresse de um batalhão. Testemunhei cinco governadores (em breve talvez seis), protestos de todo tipo, silêncios ensurdecedores. […]

  3. 3

    Alexandre said,

    Hahaha sensacional!

    Nessas horas sempre solto um “de nada”, com a intenção de provocar mesmo.


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