Faz cinco anos comecei a descrever aqui minhas impressões da vida em Brasília. Atraí, com um ou outro elogio e incontáveis reclamações, a simpatia de uns poucos, o ódio de meia dúzia e o desinteresse de um batalhão. Testemunhei cinco governadores (em breve talvez seis), protestos de todo tipo, silêncios ensurdecedores.
A distância, disse adeus a meus pais, e, de perto, quase me despedi de mim mesmo.
Andei a pé, de ônibus, de bicicleta. E de carro, com outros 1.399.999 autômatos, a reclamar do trânsito.
Reclamar, aliás e de tudo, foi a inspiração inicial, mas aos poucos virou uma quixotesca missão. Sim, existe político honesto, cabeça de bacalhau e apaixonado por Brasília. E, como dizia Lao-Tsé, se não pode vencê-los, junte-se a eles.
Não, não vendi minha alma, nem comprei um imóvel – o que, dizem por aí, daria no mesmo.
É só que passei a ver as coisas com outros olhos.
Olhos menores, ainda perdidos e muito mais sábios.